Os desafios da Nova Ordem Mundial: A ruptura da Industria 4.0 e por que uma abordagem unificada é necessária

May 24, 2017 | Brazil, Portuguese

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“Vivemos atualmente, no Brasil, momentos em que os empresários se sentem incapazes de cumprir as leis trabalhistas na íntegra. Ao mesmo tempo, os empregados sentem-se ameaçados pela perda de direitos garantidos pela Constituição, através de uma possível reforma trabalhista. Sem entrar no mérito da discussão, talvez a questão resida, em parte, no fato de que as empresas não estejam obtendo rentabilidade suficiente para proporcionar esses direitos, que seus colaboradores de fato merecem. E isto, também em face das rápidas mudanças que os mercados externo e interno estão experimentando.  Contudo, ao invés de manter o clássico antagonismo entre patrões e empregados, talvez esses novos tempos exijam outras soluções. Soluções essas, que possibilitem unir esforços de forma colaborativa, em torno do objetivo comum de viabilizar a Organização, através de um propósito sincero, compartilhado por todos, que contemple rentabilidade ótima para a empresa, satisfação de seus colaboradores e superação das expectativas de seus clientes. O artigo a seguir trata dessas mudanças, e propõe soluções que podemos customizar e implantar na sua Empresa.” – Carlos Xavier, Diretor Nacional in Brasil.

O mundo está mudando, liderado por processos globais incertos, divisões sociais, erros políticos e crescentes desigualdades econômicas. A chamada “Idade Global” resultou em um mundo mais dividido, cada vez mais divergente e inevitavelmente pluralista, em que o aumento das tensões e separações está pondo em risco o forte nível de correlação e conexão alcançado pela globalização. Nessa época de mudança, a Revolução Industrial 4.0 está nos lembrando por que os modelos unificados e abordagens integradas são os métodos mais eficazes para remodelar o propósito das nações e das organizações.

Como muitos observadores afirmaram desde o início do século XXI, o mundo está finalmente envolvido numa dolorosa e prolongada era de transição para uma nova ordem global. Das guerras civis às mudanças climáticas, da turbulência econômica ao terrorismo transnacional, dos conflitos interculturais à incerteza política, esse desenvolvimento está afetando a estabilidade social, política e econômica em muitos e diferentes níveis. Não é difícil reconhecer como a era global está mostrando não uma, mas muitas formas de globalização, como resultado de divisões crescentes dentro de nações e culturas, bem como de crescente descontentamento, causado por desigualdades econômicas endêmicas.

Nesse cenário, a União Europeia se destaca como um caso emblemático, de um projeto inovador do século passado, que parece estar perdendo força e foco, e hoje passa por uma crise de identidade. Claramente, não é uma questão de sorte que a Brexit, o acontecimento mais chocante da história da UE, tenha levado muitos a anunciar que o fato marca o fim da globalização e o regresso a um sistema internacional mais orientado para o interior/regional. As incontestáveis ​​correlações globais, juntamente com a transformação em curso do sistema industrial, estão abrindo novos espaços onde precisamos repensar o que significa viver num mundo globalizado hoje.

Rumo a uma nova era: o caso da Itália

Um dos fortes sinais, que indicam a aurora de uma nova era, é dado pelos desafios, riscos e oportunidades causados ​​pela 4ª Revolução Industrial. Esta nova virada precisa ser cuidadosamente avaliada, pois tem implicações amplas em relação à dinâmica global. Entre os países europeus, a Itália está enfrentando desafios duros e não é nenhuma surpresa que o Governo, juntamente com os atores empresariais mais influentes, tomou recentemente a iniciativa de liderar o País para abraçar o setor 4.0. No ano passado, a Confederação Geral da Indústria Italiana (Confindustria) lançou a Fabbrica 4.0, um projeto multidisciplinar em que se explorou um caminho italiano da revolução. De acordo com o documento final, apresentado por um recente estudo governamental, “o sistema industrial e a transformação da infraestrutura são mais do que apenas uma oportunidade. São uma necessidade, garantir a competitividade da Itália” (p.90).

Os desafios são muitos, mas todos concordam que o cenário 4.0 está pedindo empresas maiores, players globais mais fortes, mais flexibilidade nos modelos de negócios e diversificação de investimentos. Para responder aos desafios globais, as empresas italianas precisam crescer, expandir e melhor se equiparem, enquanto as pequenas e médias empresas, muitas das quais na Itália, têm de ser fortemente apoiadas para tornar essa transição sustentável para a economia. Os exemplos virtuosos fornecidos por muitas empresas italianas – como Algorithmic Research, Berto’s, Umana e outras – estão mostrando como o futuro já chegou, e as possibilidades são incontáveis.

Novas culturas de negócios exigem modelos organizacionais integrados.

A nova fase é, de fato, uma revolução transformadora, não só por causa de avanços tecnológicos e digitais, mas também graças ao sucesso de modelos e culturas integrados. O futuro significa: 1) o desenvolvimento de culturas empresariais holísticas, que estão moldando uma vasta gama de experiências, talentos e organizações; 2) a multiplicação de parcerias colaborativas e redes de negócios entre empresas; 3) a transformação das empresas em áreas de pesquisa, treinamento e educação.

Podemos argumentar que a transformação do sistema industrial está exibindo duas características interconectadas: uma é mais tecnológica e evolutiva, e outra mais organizacional e abrangente. Vejamos, por exemplo, três exemplos de transformações de mercado:

  • A economia circular está causando uma mudança paradigmática, na qual produtos e processos de manufatura precisam ser gerenciados com uma abordagem unificada. Segundo a comissão da UE, a economia circular afeta tanto as empresas como os cidadãos, e exige mudanças radicais para a economia, a organização social, os comportamentos dos consumidores e os modelos de negócio;A economia de compartilhamento é outra mudança maciça, que é difícil de governar e gerenciar, o que exigirá uma ampla análise e revisão;
  • O movimento criador é, ao invés disso, o exemplo de uma crescente cultura econômica de baixo para cima, e multinível, na qual o renascimento do artesanato é combinado com processos de digitalização e tecnologias inovadoras. A Internet das coisas está abrindo caminhos únicos, em que “tradições de longa data estão se misturando com tecnologias emergentes, resultando em uma infinidade de inovações”.
  • Os sistemas circulares, os fenômenos holísticos e os processos de mistura estão moldando um futuro totalmente novo e diferente para muitas indústrias.

Soluções unificadas para uma nova era de colaboração

Voltando ao caso da Itália, abraçar as oportunidades significa projetar uma nova abordagem organizacional, com ênfase na compreensão interdisciplinar e iniciativas mais colaborativas entre empresas, diferentes atores econômicos e empresários.

Com base em nossa experiência em transformar empresas na Consulus, sabemos que esse processo não é fácil, pois é cheio de desafios e ansiedades. Porém sem mudanças, muitas empresas não irão sobreviver, provocando mais desemprego e desestabilização. A mudança deve começar, e deve ser empreendida estrategicamente, pois certamente os resultados não virão da noite para o dia.

Nossa experiência nos diz que existem 4 princípios básicos para que a mudança seja eficaz:

1) Mudança de uma posição de vantagem

Cada negócio tem uma certa vantagem competitiva. Um estudo de 360º do negócio da organização deve ser realizado, a fim de avaliar a sua força única, para reforçar essa vantagem, com soluções digitais e de design.

2) A mudança requer unidade de propósito

Qualquer exercício de transformação é um processo extenuante, cheio de ansiedades. Por isso a empresa deve estar convencida do propósito da mudança, e o que isso significa para todos. Será uma grande batalha, e identificar o propósito será importante. Nós investimos muito tempo fazendo isso para as empresas, para garantir que a vontade de obter êxito os mantenha determinados em não vacilar, considerando que o processo de mudança é de longo prazo.

3) A mudança exige uma nova forma de colaboração dentro da empresa

Obviamente, os papéis vão mudar, mas o setor 4.0 também significa uma melhor colaboração. Então, sua empresa está colaborando o suficiente? Para responder a esta pergunta, será necessário implementar novos princípios e estruturas organizacionais, que facilitem a unidade das ações, a partir da diversidade de ideias e de identidades. Levará algum tempo para se habituar a isso, mas a partir de nossa experiência, uma vez que o compromisso seja assumido, o retorno sobre o investimento é elevado.

4) A mudança exige dar um novo significado aos produtos e serviços

Finalmente, Indústria 4.0 vai desencadear reflexão em todas as indústrias. Enquanto no passado era mais sobre qualidade, agora será cada vez mais sobre a nossa humanidade compartilhada e significado. Para isso, os produtos e serviços também devem inspirar significado na vida dos clientes, e resultar em colaboração e co-criação.

A realização de uma colaboração adequada entre a ideia, a empresa e a cultura organizacional é, sem dúvida, a forma mais pragmática de superar esses desafios, e promover a indústria 4.0 de processos inovadores. A colaboração requer uma forte unidade, uma parceria aberta e sustentabilidade através da estratégia. E esta é precisamente a maneira de desvendar o futuro brilhante, antecipado por essa revolução industrial. Se as empresas estão dispostas a pensar e agir de forma diferente, então todos nós podemos esperar o lançamento de uma nova Era Global para as empresas.


paolo

Paolo Frizzi é o Diretor da Consulus na Itália. Ele é especialista em dinâmicas globais, com ênfase no desenvolvimento intercultural e inter-religioso que molda a globalização. É também professor do Instituto Universitário Sophia, instituto de pós-graduação com ênfase em métodos transdisciplinares de aprendizagem e prática.

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